20150418 – Deve ser evitada a utilização de digoxina na filbrilhação auricular crónica

No estudo observacional utilizando os 14.171 doentes do ensaio clínico ROCKET-AF verificou-se que 37% dos doentes foram tratados com digoxina. Estes doentes tiveram um risco aumentado de morte (5·41 vs 4·30 eventos por 100 doentes-ano; hazard ratio 1·17; 95% CI 1·04–1·32; p=0·0093), de morte  de causa vascular (3·55 vs 2·69 eventos por 100 doentes-ano; 1·19; 1·03–1·39, p=0·0201), e de morte súbita (1·68 vs 1·12 eventos por 100 doentes-ano; 1·36; 1·08–1·70, p=0·0076).

Washam JB, Stevens SR, Lokhnygina Y, Halperin JL, Breithardt G, Singer DE, et al. Digoxin use in patients with atrial fibrillation and adverse cardiovascular outcomes: a retrospective analysis of the Rivaroxaban Once Daily Oral Direct Factor Xa Inhibition Compared with Vitamin K Antagonism for Prevention of Stroke and Embolism Trial in Atrial Fibrillation (ROCKET AF). The Lancet 2015 Mar 5; [e-pub]. (http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61836-5)

http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(14)61836-5/abstract

Comentário: Apesar do hazard ratio ser apenas de 1,17 para a mortalidade global devemos ter cuidado com a utilização da digoxina na fibrilhação auricular crónica. De acordo com as Normas de Orientação Clínica (NOC – Guidelines) o controlo da resposta ventricular na fibrilhação auricular deve ser obtida com os beta-bloqueantes e os antagonistas dos canais de cálcio não-dihidropiridinos (diltiazem e verapamil). Os digitálicos devem ser apenas usados quando estes farmaco não forem tolerados ou não controlarem a frequência cardíaca.  No caso dos doentes em fibrilhação auricular e  insuficiência cardíaca resistente à terapêutica recomendada, justifica-se a utilização da digoxina como arma de terceira linha.

Em agosto de 2014 o Journal of the American  Collegue of Cardiology  publicou um artigo original (com editorial) em que este aumento de mortalidade foi também observada no ensaio TREAT-AF.

1 – Turakhia MP et al. Increased mortality associated with digoxin in contemporary patients with atrial fibrillation: Findings from the TREAT-AF study. J Am Coll Cardiol 2014 Aug 19; 64:660. (http://dx.doi.org/10.1016/j.jacc.2014.03.060)

http://content.onlinejacc.org/article.aspx?articleid=1895457

2 – Reynolds MR.(Editorial) Outcomes with digoxin with atrial fibrillation: More data, no answers. J Am Coll Cardiol 2014 Aug 19; 64:669. (http://dx.doi.org/10.1016/j.jacc.2014.04.070)

http://content.onlinejacc.org/article.aspx?articleid=1895461

2015-03-24 – Risco com o uso da Amiodarona na Hepatite C

O antiarrítmico Amiodarona está contraindicado em doentes com hepatite C a fazerem o novo fármaco Sofosbuvir (com o nome comercial Sovaldi ou Harvoni). A associação destes dois fármacos pode provocar bradiarritmias graves que podem ser fatais.

Mais informações na Circular Informativa do Infarmed  N.º 055/CD/8.1.7. Data: 27/03/2015 e na carta divulgada pela firma Gilead produtora do medicamento anti-hepatite C.

Comentário: a Amiodarona é um fármaco poderoso mas tem um perfil de efeitos adversos muito importante quando usado cronicamente. Para além do efeito pró-arritmico (descrito neste alerta) temos a fibrose pulmonar, a fotossensibilidade, as alterações da função tiroideia, os depósitos na córnea entre outros. Este fármaco deve ser usado apenas em situações em que a indicação seja formal e o risco de efeitos adversos seja menor que os resultados clínicos que se antecipam.