20190127_Nos EUA o esgotamento dos médicos (burnout) é uma crise de saúde pública nos cuidados de saúde

Num relatório publicado a 17 Janeiro 2019, com 12 páginas e 27 referências bibliográficas, com o título A Crisis in Health Care: A Call to Action on Physician Burnout da responsabilidade da Massachusetts Medical Society, Massachusetts Health and Hospital Association, Harvard T.H. Chan School of Public Health, and Harvard Global Health Institute, chama-se a atenção para a urgência em levar a sério o esgotamento dos médicos (e outros profissionais de saúde) nos Estados Unidos da América.

O documento inclui diretivas destinadas a reduzir a prevalência de burnout entre médicos e outros prestadores de cuidados, incluindo:
1.     Todas as principais organizações de saúde devem nomear um diretor encarregue do bem-estar dos médicos;
2.     Deve ser fornecido apoio para todos aqueles profissionais que sofram de burnout;
3.     Devemos melhorar a eficiência dos Electronic Health Record (EHR).

Neste último tópico dão sugestões concretas para a criação de um ecossistema de aplicações que permita melhorar a interface médicos/EHR através da criação de uniform public application programming interface (API) for healthcare data (figura 1 na página 7).

Devemos lembrar que a 28 Novembro 2016 a Ordem dos Médicos patrocinou a divulgação do estudo: BURNOUT NA CLASSE MÉDICA. ESTUDO NACIONAL. PRINCIPAIS RESULTADOS. SESSÃO DE APRESENTAÇÃO ORDEM DOS MÉDICOS, LISBOA 28/11/2016
Burnout na Classe Médica. Estudo Nacional. Principais Resultados. Lisboa 28/11/2016. 
A amostra do estudo é uma amostra representativa constituída por 9176 médicos e corresponde a uma taxa de resposta de 29%. Os resultados revelam que 66% dos médicos da amostra apresentam um nível elevado de Exaustão Emocional, 39% um nível elevado de Despersonalização, e 30% um elevado nível de Diminuição da Realização Profissional.

Comentários (20190127mgl) – Comecemos pela definição do problema:
Definição de burnout (esgotamento) do médico segundo o relatório EUA 2019: uma situação em que os médicos perdem a satisfação e um sentido de eficácia no seu trabalho.
Definição no relatório da Ordem dos Médicos de 2016: A Síndrome de Burnout constitui uma reação disfuncional ao stress profissional cumulativo e prolongado. É uma síndrome que envolve exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização profissional.

Quer em Portugal quer nos EUA o problema é real e deve desde já ser encarado à procura de soluções.

O programa da Antena 1 “O Amor é – (Diário)”, com Júlio Machado Vaz e Inês Meneses,  tratou este tema do burnout dos médicos divulgando o documento norte-americano. Em dois episódios (30 e 31 Janeiro 2019) de cerca de 5 minutos cada, abordam o assunto de forma adequada. Os programas podem ser acedidos em:
30 Jan. 2019 – O burnout dos médicos I. (duração: 5m 0’’)
31 Jan. 2019 – O burnout dos médicos II. (duração: 4m 01’’)

Para além de tomarmos conhecimento do tema que fazer?
O Dr. Miguel Guimarães (então Presidente do Conselho Regional do Norte da OM) publicou na Revista da OM de setembro 2016, paginas 62-63, um artigo “Síndrome de Burnout: que fazer para evitar o esgotamento dos médicos?” onde avança com algumas sugestões importantes.
Gostaria de acrescentar mais alguns comentários:
1 – Divulgar o tema e principalmente o documento de Boston (que considero um Guideline vindo de Harvard University em Boston e da sociedade médica que publica o The New England Journal of Medicine) e sensibilizar os decisores (Ordem dos Médicos, Sociedades Cientificas Médicas, Administradores, direções, políticos, etc.) e ainda os doentes e profissionais de saúde que nós – médicos –  temos limites e se eles forem ultrapassados poderemos ser incapazes de funcionar. Em Portugal o nível remuneratório baixo e as exigências profissionais, por vezes exorbitantes, contribuem para este fenómeno. Agravam o problema o excesso de informação produzida e divulgada na área da Medicina Clínica, associada a uma assimetria de conhecimentos existentes entre as várias especialidades e competências médicas.
2 – O documento dá pelo menos 3 conselhos (recomendações – ver acima) que devemos tentar implementar entre nós.
3 – Sou particularmente sensível ao problema do EHR (Electronic Health Record ou Registo Eletrónico do Processo Clínico do Doente). Com a necessidade de executar atos médicos com limites de tempo muito reduzidos (10-15 minutos), a introdução do preenchimento de um número elevado de campos em sistemas informáticos obsoletos, torna a consulta médica num contrarrelógio, que nalguns (muitos) de nós provoca uma sensação de stress doloroso. O documento desenvolve o conceito que temos de ter Apps (ou seja Aplicações quer para sistemas organizacionais quer para os nossos smartphones pessoais) que ajudem a nossa tarefa no novo mundo médico digital.
4 – Fiquei preocupado quando soube, há anos, que mais de 1000 médicos pediram à Ordem dos Médicos (OM) dispensa da utilização das Receitas Desmaterializadas por “incapacidade pessoal atestada por declaração pela honra do requerente”. Na altura pensei que a OM deveria ter organizado ações de formação para dar apoio a cada um de nós, menos novos, para quem as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) não são tão intuitivas como acontece com os profissionais de saúde mais jovens. Ou seja recomendo que se criem programas de Formação-Médica-ao-Longo-da-Vida que ajudem os médicos (e restantes profissionais de saúde) a ultrapassar os obstáculos tecnológicos (e outros) que nos vão surgindo.  Nesta área pode-se incluir programas de atualização mais dirigidos aos médicos não-cardiologistas ou cardiologistas do ambulatório que não lidam com os avanços da Medicina Cardiovascular e que tem um enorme peso assistencial com listas de esperas gigantescas nos Serviços de Cardiologia de referência.

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